Ansiedade, trabalho, ciência e storytelling tem mais a ver do que você imagina
Imagine que sua mente é como um cinema rodando um filme repetido, só que é aquele tipo de filme que você odeia, sabe?
Quando falamos sobre transtornos de ansiedade, uma das perguntas mais comuns é: será que a ansiedade é hereditária? A resposta é sim, em parte. Estudos apontam que a genética desempenha um papel significativo no desenvolvimento da ansiedade. Existem genes que podem predispor uma pessoa a ser mais ansiosa, mas calma, isso não significa que ela, inevitavelmente, vá sofrer de transtornos ansiosos.
Esses genes atuam como uma "base", e cabe ao ambiente determinar se essa predisposição genética será ativada ou não. Em outras palavras, não se trata de um destino inevitável, mas de uma vulnerabilidade que pode ou não se manifestar, dependendo do contexto de vida da pessoa.
Imagine que sua genética é como um terreno. Um terreno que vem com algumas “sementes da ansiedade” plantadas lá desde que você nasceu. Só que essas sementes não estão necessariamente destinadas a crescer e virar uma floresta densa de ansiedade, sufocando tudo ao redor. Elas estão lá, no subsolo, e talvez até você nem saiba que elas existem.
Agora, o ambiente em que você vive é como o jardineiro. Se o jardineiro ficar jogando estresse, trauma, pressão e mágoas nesse terreno, adivinha só? As sementes começam a brotar. O solo fica fértil para o caos e, antes que você perceba, está cercado por uma selva mental difícil de controlar.
Mas aqui está o ponto importante: essas sementes não precisam crescer. Se o jardineiro decidir regar o terreno com autocuidado, boas relações, um pouco de terapia, e algum mindfulness aqui e ali, as sementes da ansiedade podem nunca sair do chão. Então, sim, você pode ter nascido com uma predisposição genética, mas não é uma sentença de vida. O que você faz com o solo e o jardineiro — essa é a chave para o que vai ou não crescer na sua cabeça.
O impacto do ambiente na ansiedade
Se você cresceu em um ambiente estressante, isso pode aumentar as chances de desenvolver ansiedade. Fatores como traumas na infância, vivências em ambientes de alta pressão ou experiências dolorosas, como perda de entes queridos ou abuso, são conhecidos por exacerbar a predisposição à ansiedade. O cérebro, ao longo do tempo, vai aprendendo a reagir ao ambiente em que está inserido, muitas vezes interpretando até pequenos desafios como grandes ameaças.
Assim como crescer em um ambiente estressante pode aumentar o risco de desenvolver ansiedade, o ambiente de trabalho também pode ter um efeito similar no dia a dia. Por exemplo, ambientes profissionais altamente demandantes, prazos apertados, metas difíceis de alcançar e cobranças constantes podem funcionar como catalisadores para o desenvolvimento de sintomas de ansiedade.
Se você está continuamente sob pressão no trabalho, lidando com chefes exigentes ou um volume de tarefas excessivo, o cérebro pode começar a reagir a essas situações como se fossem ameaças, mesmo em cenários que, objetivamente, não apresentem grande risco.
Além disso, pessoas com uma predisposição genética para ansiedade podem ver essa condição se manifestar ou agravar se estiverem expostas a esses estressores crônicos no trabalho. A pressão constante para atender às expectativas, conciliar várias responsabilidades simultaneamente, ou até a incerteza sobre a segurança no emprego, podem levar a um estado de ansiedade contínua.
Assim como no caso de vivências traumáticas na infância, o cérebro vai aprendendo a responder de maneira exagerada a desafios cotidianos, aumentando a percepção de ameaça em situações que, sob circunstâncias normais, não provocariam uma reação tão intensa.
Por outro lado, mesmo aqueles que têm uma predisposição genética podem desenvolver uma ansiedade patológica se estiverem expostos a estressores crônicos, como a pressão no trabalho, responsabilidades familiares, ou simplesmente o ritmo acelerado da vida moderna.
Um ponto importante é que o desenvolvimento da ansiedade não pode ser simplificado a apenas um desses fatores. A combinação entre predisposição genética e as experiências de vida combinadas é o que manda.
A presença de genes de ansiedade não é uma sentença, mas uma indicação de que, sob certas circunstâncias, a pessoa pode ter maior dificuldade em lidar com o estresse.
Estudos com gêmeos idênticos, que compartilham exatamente o mesmo código genético, demonstram isso claramente. Mesmo gêmeos que crescem juntos, em ambientes semelhantes, podem ter níveis diferentes de ansiedade, dependendo de fatores como a forma com que enfrentam desafios e as suas experiências pessoais.
Como a ansiedade se desenvolve ao longo da vida profissional?
A ansiedade não surge de uma hora para outra. Ela pode se desenvolver gradualmente, a partir de vivências acumuladas ao longo do tempo. é normal sentir-se ansioso às vezes, especialmente quando o ambiente de trabalho parece mais um campo minado do que um lugar onde você realiza seus sonhos.
O trabalho pode ser um caldeirão de estresse. Cargas de trabalho pesadas, insegurança no emprego e falta de apoio cultural podem intensificar a ansiedade. Por outro lado, ter um papel significativo, que traga confiança e propósito, pode melhorar a saúde mental. É uma troca, certo? Pressão por realização.
Os comportamentos de evitação, aqueles truques que usamos para fugir do que nos assustam, como evitar tarefas ou usar substâncias, podem até aliviar no curto prazo, mas a longo prazo, eles ferram com tudo. Eles não só mantêm a ansiedade como também podem piorá-la, e ainda por cima, detonam com a qualidade de vida.
Quanto mais você estiver alinhado e comprometido com os valores e metas de sua carreira, mais treinado você estará para gerenciar o estresse. Isso não é apenas uma boa sensação; é uma armadura contra a ansiedade.
No entanto, li outro estudo que indica que os sintomas de ansiedade e depressão aparecem de forma significativa independentemente do nível socioeconômico. Isso indica que, independentemente da posição econômica, as condições de trabalho podem ser estressantes o suficiente para afetar a saúde mental. O estudo também mostrou haver uma maior incidência de estresse entre os indivíduos com níveis mais altos de educação.
É claro que o estudo é limitado pela sua natureza transversal, que impede a inferência de causalidade, e pela amostra restrita a um único local, limitando a generalização dos resultados, mas isso fala algumas coisas sobre outros contextos.
Nosso cérebro reage e se reconecta com nossas vivências passadas, mas porque isso é importante?
O storytelling permite que reestruturemos nossas memórias e pensamentos, recontando nossas histórias sob uma nova perspectiva. Contar sua história para si pode reformular seus pensamentos e crenças disfuncionais.
Imagine que sua mente é como um cinema rodando um filme repetido, só que é aquele tipo de filme que você odeia, sabe? Aquele que te faz sentir mal toda vez que assiste. O problema é que, em vez de você ser o espectador, você está dentro do filme, preso nas mesmas cenas de sempre – e, claro, o roteiro está cheio de drama desnecessário.
A auto-narração, ou storytelling, é como pegar o controle remoto e começar a reescrever o roteiro da sua vida. Aqueles traumas, as cenas ruins que o seu cérebro insiste em reprisar, podem ser reinterpretados. Você deixa de ser a vítima indefesa e começa a ver suas histórias por um ângulo diferente, mais leve, mais "ok, passei por isso, mas olha onde estou agora".
O autor Leandro Teles até menciona que a nossa ligação emocional com essas memórias pode mudar, como se o diretor do filme (que é você) resolvesse cortar algumas partes e adicionar um final mais feliz. O cérebro tem essa capacidade maluca de "editar" suas experiências, permitindo que a história deixe de ser um thriller de terror e vire, no mínimo, um drama com final decente.
Quando você começa a recontar sua história para si mesmo, você muda o significado daqueles momentos pesados. Em vez de ver tudo como desgraça atrás de desgraça, você pode encarar como desafios que você superou, momentos que te fizeram mais forte. E sabe o que é melhor? Seu cérebro aprende a processar essas memórias de forma diferente, deixando de disparar o alarme de pânico toda vez que lembra daquele evento.
No final das contas, contar sua própria história é como reescrever o script. Você deixa de ser o personagem secundário da sua própria vida e vira o protagonista. O filme ainda é o mesmo, mas a narrativa agora é sua.
Outras formas de lidar com a ansiedade: estratégias para o dia a dia
Depois de entender que tanto os fatores genéticos quanto os ambientais contribuem para o desenvolvimento da ansiedade, a questão é: como podemos lidar com isso no nosso cotidiano?
Vou te dar algumas estratégias que, além de funcionarem cientificamente, também são fáceis de aplicar. É sobre assumir a responsabilidade pelo que você pode controlar, enquanto aceita o que está fora do seu alcance.
Enganando seu sistema nervoso
Sabe aquela sensação de que o coração vai sair pela boca? Uma das maneiras mais simples e eficazes de lidar com isso é através da respiração controlada. Quando você desacelera a respiração, está literalmente "hackeando" seu sistema nervoso para sair do modo de "luta ou fuga". A técnica 4-7-8 é um clássico: inspire pelo nariz por 4 segundos, segure por 7 e solte pela boca por 8. Parece meio besta? Pode até ser, mas cientificamente, desacelerar a respiração sinaliza ao cérebro que não há um perigo real acontecendo e ajuda a diminuir a resposta de ansiedade.
Ansiedade corre atrás, então corra mais rápido
Aqui não tem segredo: o exercício físico é um dos maiores aliados no combate à ansiedade. E não estou falando só de treinos pesados ou academia; até uma caminhada de 20 minutos já pode fazer uma baita diferença. Quando você se mexe, seu corpo libera endorfinas, que são basicamente as "drogas naturais" do bem-estar. Além disso, o exercício regular ajuda a regular o cortisol, o hormônio do estresse, e melhora o sono. Isso é ciência pura. Se você está ansioso, mova o corpo.
Cuidando da sua cabeça através do estômago
A maneira como você se alimenta tem um impacto direto sobre o seu humor e sua ansiedade. O intestino é chamado de "segundo cérebro" por um motivo. A ciência mostrou que dietas ricas em açúcar e alimentos processados podem aumentar os níveis de ansiedade. Por outro lado, alimentos ricos (consulte uma nutricionista urgente) podem reduzir os sintomas de ansiedade. É claro que ninguém está pedindo para você virar uma pessoa 100% saudável da noite para o dia, mas fazer ajustes na alimentação pode ser um grande aliado.
Questionando suas narrativas internas
Sabe aquele turbilhão de pensamentos que surge do nada e faz você pensar no pior cenário possível? Isso se chama catastrofização, e é uma armadilha cognitiva bem comum em quem tem ansiedade. A ciência cognitiva sugere que você pode treinar sua mente para identificar e interromper esses pensamentos irracionais. Quando perceber que está no modo "e se…?" (tipo, “E se eu perder meu emprego amanhã e acabar morando na rua?”), pare e questione essas suposições. Pergunte-se: "O que realmente está acontecendo agora?" e "Qual é a evidência de que isso vai mesmo acontecer?". Você está basicamente desarmando sua própria mente com lógica.
Previsibilidade é amiga da calma
Quando você está ansioso, seu cérebro odeia incertezas. Ter rotinas diárias traz uma sensação de controle sobre o que você pode controlar. É por isso que fazer pequenos hábitos — como acordar no mesmo horário, criar uma rotina matinal ou até programar pausas no trabalho — ajuda a reduzir a ansiedade. Não precisa ser uma rotina rígida, mas criar uma previsibilidade em torno das coisas básicas do seu dia a dia pode ser uma âncora em meio ao caos.
Esteja onde você está
Sim, eu sei, meditação mindfulness é o tipo de conselho que parece ser jogado em cima de qualquer problema hoje em dia. Mas, adivinha só? Funciona. Estudos mostram que praticar mindfulness ajuda regularmente a reduzir a ansiedade. A ideia é simples: treinar sua mente para focar no momento presente, em vez de se perder em pensamentos sobre o futuro ou o passado. Comece pequeno: cinco minutos por dia de atenção plena podem mudar a maneira como você responde ao estresse.
Nem tudo precisa ser resolvido
Essa é a parte mais contra-intuitiva. Muitas vezes, a ansiedade piora porque ficamos tentando combatê-la o tempo todo. E se, em vez de resistir, você simplesmente aceitasse que está se sentindo ansioso? Claro, isso não significa se resignar ou desistir, mas entender que a ansiedade faz parte da vida humana. Aceitar que você está se sentindo ansioso em determinado momento tira parte do peso disso. E ao longo do tempo, você percebe que a ansiedade, assim como tudo na vida, é passageira. Nem todo pensamento ou sensação precisa ser resolvido imediatamente.
Quero que saiba que existe sim um apelo genético, mas saber que nossa genética pode influenciar a tendência à ansiedade não significa que estamos fadados a sofrer dela. E, mesmo que o ambiente seja um fator desencadeante, é possível intervir, buscar ajuda e adotar hábitos que favoreçam uma vida emocional mais equilibrada.
Que mudanças você pode fazer hoje para diminuir o impacto da ansiedade na sua vida? Avalie seus gatilhos, e os conheça bem ao ponto de saber identificar, mas não fuja toda vez deles, aprenda a fazer uma exposição gradual ao desconforto, e considere procurar apoio profissional, quando necessário.
Respire fundo, mova-se, cuide da sua alimentação, questione seus pensamentos e, acima de tudo, aceite que sentir ansiedade é apenas mais uma parte da vida humana. Pode não ser o caminho mais fácil, mas a capacidade de lidar com o que vier, um dia de cada vez é mais valiosa.
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@lealmurillo | Jornalista | Top Voice LinkedIn | Storytelling e Conteúdo